«Mudou de opinião de um dia para o outro? Deve ser bipolar.» Quantas vezes usamos termos clínicos de transtornos mentais graves para descrever situações do quotidiano? É importante saber a diferença e respeitar o outro.
Texto de Ana Patrícia Cardoso | Fotografia de iStock
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os transtornos mentais serão a principal causa de incapacitação no mundo em 2030 e a depressão será a primeira causa de doenças.
«A nossa linguagem vive de termos clínicos para definir situações do dia-a-dia com uma forte conotação negativa. O único ponto positivo associado às pessoas com doença mental é que são muito pacientes: lidam com seu transtorno e também com o estigma social», diz ao EL Pais Julio Bobes, presidente da Sociedade Espanhola de Psiquiatria.
É importante saber avaliar corretamente uma situação e não banalizar transtornos graves que afetam seriamente a sociedade em que vivemos. Eis alguns exemplos a reter.
Quantas vezes já usou esta expressão? As pessoas que sofrem de Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) não são apenas muito organizadas. Segundo Amparo Belloch, professora de Psicopatologia, «a preocupação excessiva com o perfeccionismo impede a manifestação de outras características, como a flexibilidade e abertura a novas experiências, o que obscurece ou impossibilita a eficácia. Concentram-se totalmente no seu trabalho e desempenho e deixam de lado suas atividades de lazer e amizades». Este transtorno afeta 1% da população.
USAR «ESQUIZOFRÉNICO» PARA DEFINIR ALGUÉM VOLÁTIL E DESCONTROLADO
Não o faça. Segundo a OMS, «esquizofrenia é um transtorno mental grave que afeta cerca de 21 milhões de pessoas em todo o mundo. É caracterizada por alterações do pensamento, emoções, linguagem, a perceção do eu e da conduta. Pode dificultar a integração no mercado de trabalho, a relação com os outros e uma vida normal». A organização adverte ainda que «o estigma e a discriminação podem ser traduzidos em falta de acesso aos serviços de saúde e sociais. Além disso, há um alto risco de que os direitos humanos das pessoas afetadas não sejam respeitados, por exemplo, com o internamento prolongado em unidades psiquiátricas».
CHAMAR «DEPRESSÃO» À TRISTEZA
O erro mais comum. Depressão é um assunto sério. Os casos cresceram cerca de 18% em dez anos. De acordo com a OMS, até 2030, esta será a doença mais incapacitante do mundo e «o que se pensa geralmente é que há coisas tão importantes para as pessoas que podem gerar automaticamente uma doença como a depressão, e não é assim. O problema de banalizar o termo é que desvalorizamos a doença e as suas consequências na vida de quem é afetado por ela».
«BIPOLAR» QUANDO NOS REFERIMOS A ALGUÉM QUE MUDA DE OPINIÃO COM FACILIDADE
Confundir os dois pode ter consequências graves. «O transtorno bipolar é uma doença mental grave do estado de ânimo, anteriormente conhecida como psicose maníaco-depressiva. Tem períodos cíclicos de euforia e fases de depressão que podem durar de dias ou meses», segundo a OMS. As pessoas que sofrem deste transtorno são mais propensas a pensamentos suicidas.
DIZER «ANSIEDADE» PARA FALAR DE NERVOSISMO OU IMPACIÊNCIA
Não são, de todo, a mesma coisa. 33% da população mundial sofre de ansiedade. Caracteriza-se por «um sentimento de apreensão ou medo, uma preocupação incontrolável e excessiva sobre um grande número de eventos ou atividades. Quando a origem desse sentimento é desconhecida, gera ainda mais angústia. O sentimento é acompanhado de três ou mais sintomas físicos como, por exemplo, «Irritabilidade, inquietação ou impaciência, dificuldade de concentração ou ter a mente vazia, fadiga fácil, tensão muscular, dificuldade em conciliar o sono ou sensação de cansaço ao acordar», diz a OMS.