De certeza que já ouviu falar das vantagens do Ómega 3 na prevenção de doenças cardíacas. Mas um novo estudo vem questionar a sua eficácia quando tomado em suplementos. E chamar a atenção para a ameaça que representa para o planeta. O que está em causa? Uma indústria de cerca de 30 mil milhões de dólares.
Texto de Ana Patrícia Cardoso
Este é o estudo dos estudos. Literalmente. A organização Cochrane publicou recentemente uma análise que está a dar que falar no seio da comunidade científica.
A empresa comparou 79 estudos, envolvendo 112,059 pessoas, realizados sobre o efeito dos suplementos de Ómega 3 – que são dos mais vendidos a nível mundial – na redução de problemas cardíacos.
«Não encontramos diferença na diminuição do risco de problemas cardiovasculares, doenças coronárias ou enfartes com a toma de suplementos de Ómega 3»
O resultado foi conclusivo: «Não encontramos diferença na diminuição do risco de problemas cardiovasculares, doenças coronárias ou enfartes de um grupo para outro».
Paul Greenberg, escritor, conferencista e autor do livro The Omega Principle, diz à DN Life que este resultado «não surpreende de todo. Há anos que vários estudos têm vindo a comprovar que a extração de Ómega 3 não tem os resultados que a indústria publicita».
É então importante ou não consumir Ómega 3? «Costumo dizer que o Ómega 3 é o Forrest Gump das gorduras. Aparece nas partes importantes do nosso corpo sem sabermos como. Por exemplo, o nosso cérebro é composto por 10% de Ómega 3», diz Paul Greenberg.
«Comi o melhor peixe do mundo quando estive em Portugal. Vocês sabem fazê-lo. E é assim que devemos consumir Ómega 3», diz Greenberg.
O Ómega 3 é um tipo de gordura benéfica para o funcionamento do nosso organismo que podemos encontrar sobretudo nos alimentos que vêm do mar: bacalhau, sardinha, salmão ou anchova, por exemplo.
«Comi o melhor peixe do mundo quando estive em Portugal. Vocês sabem fazê-lo. E é assim que devemos consumir Ómega 3. O corpo recebe os benefícios da forma correta e nós deliciamo-nos com o tempero», diz o autor.
No entanto, o problema é mais sério do que somente a forma como o ingerimos. A indústria serve-se da vida marinha para fabrico de óleo de peixe e para alimentação da indústria animal.
Um em cada quatro quilos de peixe é reduzido a óleo e alimento para outros animais – aquacultura, sobretudo.
Paul defende que «este é o ciclo que tem de mudar. Temos de alterar a forma como alimentamos os nossos animais». Este mercado consome toneladas de vida marinha todos os anos. Um em cada quatro quilos de peixe é reduzido a óleo e alimento para outros animais – aquacultura, sobretudo.
O caso das anchovas na costa do Peru é um dos mais flagrantes. «Apesar de não haver grande diferença da anchova peruana para qualquer outra, a verdade é que tem sido vendida como tal e está estipulado por lei que 95% da pesca vá para a indústria de suplementos», afirma o autor.
«Anualmente, são retiradas do mar cerca de 20 a 25 milhões de toneladas de peixe que serve a indústria dos suplementos.»
Se olharmos para os números globais, o cenário torna-se ainda mais assustador. Greenberg escreve no The Guardian que «anualmente, esta indústria retira do mar cerca de 20 a 25 milhões de toneladas de peixe que serve a indústria dos suplementos. Este é o peso de toda a população dos Estados Unidos, consegue imaginar?»
O cenário não parece promissor e o autor alerta para um dos fatores mais preocupantes: a China. «A China é o maior problema. É o maior consumidor de óleo de peixe do mundo. Se a China não aderir à mudança, há pouco que possamos fazer».